Festival Suro, 2022
@André Cruz

Susana Pires

Os dois desenhos têxteis apresentados nesta exposição decorrem de períodos de trabalho distintos, unifica-os apenas o dispositivo. Conversa tangível III (a. C), Tangênciais (d. C).

Os desenhos estão envoltos por uma membrana dupla semitransparente que convoca a possibilidade de serem observados dos dois lados. Este tecido é simultaneamente conjuntivo e disjuntivo, tanto nos cria continuamente novas possibilidades de ver subordinadas às diferentes lumínicas, como nos impede de ver as formas nas suras condições integrais.

A memoria tangível da intercorporeidade é o eixo referencial que motoriza cada trabalho que realizo. Entre dois corpos existe um espaço organizado, mas descontínuo, preenchido por formas, imagens e entendimentos codificados.

Continuidade, contiguidade e conflito são algumas das figuras dinâmicas que estruturam esse lugar.

Até a C. dizia que no meu trabalho pretende revelar o corpo como um lugar de sensações ligado à memória do Outro.

Há um viver partilhado que se torna forma, por necessidade de metaforizar em signos e sinais um espaço/tempo de implicação recíproca.

Continuo a afirmar...mas agora em d. C. escasseia a organicidade, são formas semi retas, soltas que mal se tocam, cruzam-se, têm espaços vazios entre si. Há uma grelha com lacunas, um labirinto sem paredes. Há qualquer coisa que falta.

Bio

Nasceu em Évora em 1980. Doutorada em Pintura (FBAUL, 2020), é Professora Auxiliar Convidada da Unidade Curricular de Tapeçaria na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

Num trabalho que se apresenta através do desenho, escultura e instalação assume o têxtil como materialidade discursiva. Expõe regularmente desde 2003, integrou as seleções Jovens Criadores 2003, os prémios Anteciparte 2005, o prémio Jovens Artistas Alentejo 2006 (uma iniciativa da Direcção Regional da Cultura do Alentejo) e a bienal Contextile 2016. Das exposições recentes, destaca as coletivas “WAH! (We are Here)” no Centro de Arte e Cultura - Fundação Eugénio de Almeida em Évora e “Fazer Sentido” na Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea de Almada.