Festival Suro, 2022
@André Cruz
Sebastião Resende
Os dias que nunca existiram
“No século XVI iniciou-se a passagem do calendário juliano para o atual, o gregoriano, para que se ajustasse o equinócio da primavera ao dia 21 de Março. Foi necessário “eliminar” 10 dias para corrigir o erro da então. Assim, do dia 4 de outubro de 1582 passou-se diretamente para o dia 15.
Sempre tinha achado fascinante este episódio histórico, mas foi só por altura das adversidades e bloqueios relativos ao covid que achei ser a altura certa para o lembrar, envoltos que estávamos numa nova e imprevisível gestão dos tempos.
Resulta que cada um dos elementos aqui apresentados corresponde a um desses dias que nunca existiram.
Utilizei nesta peça uma forma de escrita de sequência de números que iniciei há mais de 30 anos e que por vezes retomo: a linha resulta do movimento dos dedos necessário para marcar essa sucessão. Uma marca digital no campo digital...!
O espaço está organizado como qualquer teclado numérico e a leitura deve iniciar-se pela pinta de maior dimensão, encadeando os algarismos nessa continuidade espacial...”
BIO
Tem formação pela ESBAP/Universidade do Porto (73-78) e MA por Tama Art University, Tokyo (84-87). Frequentou igualmente nestes anos as aulas de Kazuo Ohno, fundador do Butoh (dança/teatro).
Tem actividade pública regular desde 1976 expressa em diversos media, nomeadamente pintura, escultura, fotografia, vídeo, paisagens sonoras, instalação, cinema de animação, livros de artista e outros projectos de edição de múltiplos, especialmente em serigrafia.
Na sua obra revela uma atitude atenta aos desenvolvimentos conceptuais da nossa contemporaneidade, assim como uma constante experimentação oficinal.
De 30 exposições individuais destaca as últimas: “Tempos Em Falta”, Sismógrafo, Porto, 2020; “Murmurar na Noite”, Maus Hábitos, Porto, 2020; “Quando Se Extinguiram o Espaço Ficou Vazio”, Casa das Artes, Porto (2019); “Sobre a Terra Fendida Uma Chama”, Museu da Guarda (2018), “Neste Ninho de Vespas” e “Fecit Potentiam”, Sismógrafo, Porto (2017 e 2014); “The Lying Chair”, Galeria Quadrado Azul, Lisboa (2010); “Naufrágio Pluma”, Galeria Quadrado Azul, Porto. (2009); “Tem nos Olhos o Tempo Simultâneo”, O Espaço do Tempo, Montemor-o- Novo. (2007) e “Sem Título Tranquilo III” Galeria Quadrado Azul, Porto. (2003).
Participou em mais de 130 exposições colectivas.
Achille Bonito Oliva, Agnes Kohlmeyer, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Faria, João Pinharanda, Miguel VH Perez, António Cerveira Pinto, Fernando Pernes, Rui Mário Gonçalves e Bernardo Pinto de Almeida entre outros, como curadores ou ensaístas escreveram em catálogos ou livros sobre o seu trabalho.
Obteve vários prémios, o último dos quais o Grande Prémio Amadeu de Souza-Cardoso, 2017.
Está representado em várias colecções privadas e institucionais, nomeadamente Fundação de Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação PLMJ, Kloster Bentlage, Rheine (Alemanha), Spoleto Festival dei Due Mondi (Itália).
Elemento fundador do espaço Sismógrafo, Porto.